sexta-feira, junho 13, 2008

Fernando Pessoa : 120 anos


Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.
Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar…
Sim, devagar…
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar…
Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima…

Talvez isto tudo…
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar…
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo…
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?


Álvaro de Campos

19 comentários:

Leonor C.. disse...

Um belo poema para homenagear Fernando Pessoa. Nele está bem retratada a insegurança que muitas vezes se apodera de nós: "devagar, porque não sei onde quero ir".

Bom fim de semana, Maria Laura!

Germano Viana Xavier disse...

O devagar agônico, cheio de intempérie. Propriedade de Pessoa, dizer o todo com o mínimo.

Bom demais.

Abraços, Maria!

Germano
Aparece...

Manuel Veiga disse...

"Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo..."

nem mais!...

bettips disse...

Sem tempo para tudo...é sempre com um gosto de encontro novo que passo no teu lugar transparente.
Aqui, lembrando o homem múltiplo, um discreto contabilista, de pé, na sua banca... como entendo a fuga pelas palavras!
Bjinho

JPD disse...

Belíssima escolha.

maria disse...

A inquietação tão frequentemente latente nos poemas de Pessoa...
Gostei de vir aqui
Abraço

Mar Arável disse...

DEVAGAR QUE TEMOS PRESSA

Anônimo disse...

Obrigada pela publicação deste poema; já nem me lembrava dele...

tchi disse...

Devagar e com vagar para encontrar o caminho e saber por onde ir.


Belíssimo poema e homenagem.

Beijinhos.

maria josé quintela disse...

muito oportuno.


o mundo precisa de vagar


ou mesmo parar


para reflectir para onde vai.


um beijo.

dona tela disse...

O que é esta história dos irlandeses?

Desculpe incomodar.

Zek disse...

De vagar por esse mundo agitado e confuso, resolvi pensar e andar devagar para saber para onde estou indo!!!

José Louro disse...

Olá Maria laura.
Acertada homenagem.
Abraço.

Deusa Odoyá disse...

Oi minha amiga e estimada maria laura.
Uma bela homenagem a esse grandioso Fernando Pessoa.
Adorei seu texto.
Parabens.
Passei para desejar uma boa semana com muitas estrelinhas em seu caminho amiga.
Beijos.

Secreta disse...

Poema belissimo. Excelente homenagem :)
Beijito.

Mateso disse...

Que dizer de um titã?
Majestoso!
Bj.

Pedro Branco disse...

Não sei andar devagar. Não quero andar devagar. Corro. E morro nesta inquietação em que cada minuto é bem mais longo que todos os dias do mundo... E depois salto e grito e fujo e nem sei quem sou. Volto-me nos reflexos do espelho que não quero ver. Não sei quem sou. Por onde vou. O que vou... fazer se um dia me descobrir?

Lyra disse...

Eu caminho devagar, mas nunca caminho para trás (risos).

Bela homenagem! É um dos meu favoritos de Fernando Pessossa!

Beijinhos e até breve.

;O)

bsh disse...

Encantador. Excelente escolha...

http://desabafos-solitarios.blogspot.com/