quinta-feira, abril 10, 2008

O lugar da casa


Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.




Eugénio de Andrade

16 comentários:

Mateso disse...

Abril do snho? ou Abril do porvir?

Muito belo.
Bj.

Manuel Veiga disse...

casa que fosse areal. ou brisa do Tejo...

muito belo.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Laura, lindo poema...
Parabéns pela escolha!
Beijinhos de carinho,
Fernandinha

Pedro Branco disse...

Plantarei uma flor na minha janela
Para se abrir o aroma ao ar puro da manhã
Pintarei depois um poema por entre cada luz mais amarela
Do sol que nos entra na alma, para nos garantir a mente sã

Pedirei paz, na inquietação do acordar
Olhos de água por amor em fonte pura
Salvarei todas as memórias só por as pensar
Que da minha arvore, só a raiz perdura...

Kênia Garcia disse...

...só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos...

Eu quero "um destes" pra mim!

Beijos e um belo fim de semana pra ti!!

jorge esteves disse...

(Re)Ler Eugénio de Andrade é sempre um prazer incontido!...
(as criteriosas escolhas, aqui, são excelentes; haja a justiça às fotografias que as acompanham e que revelam, também, um apreciável sentido estético)

abraços

~pi disse...

a possível pele quente

dos lugares

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Laura, um bom fim de semana...

Doa dias que passam,
as horas vividas,
são laços que abraçam,
as almas queridas.

Beijinhos de carinho,
Fernandinha

tchi disse...

“Ou uma morada
que fosse uma praia desabitada;
que nem morada fosse;
só um sítio aquecido,
rodeado de alacridade;
um propósito:
prosperar como árvore,
sentir a floração dos ramos,
que de novo vibram
com o inesperado canto da calandra”.


Beijinho

via disse...

a casa, refúgio e prisão. sinto isso mesmo, também a esperança.

alexandrecastro disse...

um belo poema num belo post.
não sei porque mas "cheira" a primavera....!
beijinho

as velas ardem ate ao fim disse...

Gosto de muito deste poema!especialmente por ser filha de Abril.

bjo

Rui disse...

Um lugar assim, dentro de nós. Facilmente transportável.

bettips disse...

Ainda bem que o nosso querido poeta não pode ver a "sua" casa, abandonada e de olhos vazios...
Abandonada ao vento do Douro, domadas as palmeiras e as paixões de Abril.
Lindo, A., o tema, a fotografia.
Bjinho

Oliver Pickwick disse...

A melhor definição para lar. Quanto à fotografia, lembra-me um portal para uma vida radiante.
Um beijo!

Secreta disse...

Um poema bonito , tocante.
Beijito.