quarta-feira, julho 02, 2008

a carta








enquanto a carta permanece fechada,
todas as notícias são possíveis;
todas as esperanças, legítimas


tu és a carta
eu sou o destino
tu és o medo
eu sou a trincheira
tão densas são as palavras
tão dura é a verdade
que nos perdemos há tanto
na última cedilha
no último acento
sem sentido

chora o vazio
dor
é mesmo dor o que sinto

na encruzilhada
emaranhada e traiçoeira dos escritos
jorram os sons aflitos
da falta de rumo
dos ventos contrários
perdidos na sedução adiada
perdidos na sedução adiada
nesta tentação de não deitar contas à vida
nesta vocação desesperada para o pior de tudo

lembras-te da última carta?
estava vazia!
sei-o eu
sabe-lo tu
sabem-no todos os homens que se despenham
verticalmente
no fundo azul de um envelope distante
verticalmente
como quem se suicida impunemente
na sede do mar
que se sorve
adiada
em cada linha em branco deixada por escrever

sabe-lo tu
e sei-o eu
mas as linhas do teu corpo
só eu as leio

só eu as leio

Jorge Casimiro

27 comentários:

Anônimo disse...

sabe-lo tu
e sei-o eu
Que aqui me encontro
Beijinhos-Salomé

mena maya disse...

enquanto a carta permanece fechada,
todas as notícias são possíveis;
todas as esperanças, legítimas


Fico saboreando estas palavras, devagarinho como quem deixa derreter um quadradinho de chocolate na boca...
São deliciosas, Maria Laura!

mena maya disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pandora disse...

...enquanto a carta permanece fechada,todas os sentimentos e esperanças estão a flor da pele...
beijinhos

M. disse...

Belíssimo!

**Viver a Alma** disse...

Salvé MAria Laura!

Belíssima escolha para este post.
Deixo-te um abraço
MAriz
ESPAVO!

as velas ardem ate ao fim disse...

enquanto a carta permanece fechada,
todas as notícias são possíveis;
todas as esperanças, legítimas.

Forame sao tantas as vezes que nao abro as cartas com tal pensamento.

um bjo

Manuel Veiga disse...

um belo poema. de um poeta que me era desconhecido. gostei. grato.

João Videira Santos disse...

Um belissimo poema!

vieira calado disse...

Gostei do poema.
Bom fim de semana.
Bjs

José Louro disse...

Bom fim de semana.

dona tela disse...

Sou mesmo uma alma sensível.

Muitos cumprimentos.

Anônimo disse...

Adorei o poema. não conhecia. obrigada!
bom fim de semana

Heduardo Kiesse disse...

uma carta com destinatario bem poetico querida amida!

"tu és a carta
eu sou o destino"


beijao graaande!

Deusa Odoyá disse...

Oi minha estimada amiga Maria Laura.
Obrigado por sua visita ao meu cantinho, espero uqe tenhas gsotado.
Seu poema, muito lindo ,iluminado e cheio esperanças.
Fique na paz e um bom fim de semana com muito amor e paz em seu coração.
beijos da amiga do lado de cá.

Regina Coeli.

Unknown disse...

Bonito poema!

Germano Viana Xavier disse...

Maria,

que poema belo.
Li e vi que ele combinou com o texto lá meu de hoje. Está lá no Clube. E é uma carta.

Essa coisa de querer o mistério de já antes de qualquer coisa. quando o bom é beber dos seguredos.

Abraço-te com carinho e digo que venho com gosto.

Germano
Aparece...

O Puma disse...

Há sempre uma última carta

que nunca se escreve

mas que tentamos ler

Leonor C.. disse...

Não conhecia este poema e acho-o lindo. Na realidade uma carta fechada pode trazer-nos todas as notícis possíveis. É necessário ter o coração preparado para lê-la.

Bom fim de semana, Maria Laura

HOJE E AMANHÃ

Lyra disse...

Olá,

Chegou a atura de eu tirar umas férias :O)))

Entretanto deixei, no meu blog, um “presente” para todos os meus amigos. Espero que gostem!

Tudo de bom para ti.

Beijinhos e até breve.

;O)

Marinha de Allegue disse...

A recepción da carta e o seu protocolo...

Unha aperta.
:)

Dan Vícola disse...

Sem palavras diante da beleza do poema...
Ou será A VIDA nele contida?
Agora, tanto faz...
Coração já sentiu, alma já absorveu.
Fica a gratidão pela beleza de sua escolha.
Lindo!

Abraço.

Daniel.

Pedro Branco disse...

Forte esta ausência. Esta perda em sentido único. No rolar de todas as pestanas. Que de um momento para o outro parece que esquecem. A fonte de tantas frutas. A corrente de tantos versos. O fogo de tantos ventos. As tempestades de tantas saudades. Os gritos de tanta inquietação. O gesto simples. De nós...

Paula Calixto disse...

O que preciso for a dizer será dito até no não-dito.

Beijos.

dona tela disse...

Vou ali e já volto.
Beijinhos.

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querida Maria Laura, lindo poema... Beijinhos de carinho,
Fernandinha

Mar Arável disse...

é preciso conhecer

o corpo das paçavras